23 de junho de 2011

varal [sem assunto]


O meu chão eram lenços de papel. Eu fazia tapetes de Corpus Christi com papel e canetinha e desenhava ali minha alegria que ainda está aqui. Da infância, só sinto falta do meu pai, que não está aqui. Eu ainda sou criança e tudo que estava lá ainda posso ter, e tenho! Eu leio livros de Literatura Infantil e eles são meus preferidos. Eu ainda quero ser tudo. A diferença é que agora eu sei que não posso, só nos livros. O meu corpo não é o mesmo, é verdade. Ele cresceu multiforme, menos minhas mãos curiosas. Não sei ver sem pegar. Não sei usar apenas um sentido. Eu beijo cheirando. Escrevo balbuciando o que é preciso cortar do texto. Eu leio as placas e os pensamentos escrevendo as palavras com o dedo no ar. Depois dos 30, não optei por cores neutras e sóbrias apenas. Já é tão chato não poder correr atrás das bolhas de sabão que atraem os clientes à loja de departamentos. Por isso, tenho minha própria máquina de fazer bolhas e minha coleção de cores no guarda roupa. Não dá pra aguentar a dureza da vida sem ser criança. Não tenho nostalgia porque minha infância ainda está aqui. Menos meu pai. Mas isso tem outro nome: saudade.

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