7 de setembro de 2011

"Aquela multidão tá ali. (...) Serão eles que vão frequentar? Certamente não nos frequentarão. Nós teremos que criar algum tipo de programa para poder interagir com esta população."

Danilo Miranda,  Diretor do SESC de São Paulo, em Sempre Um Papo

Cracolândia, São Paulo/SP - porque a verdade também é beleza! 
Foto daqui: http://www.tvcartamaior.com.br/cmimagens/20090530/017.jpg

Ah, se fosse eu a dizer, a gritar e a agir: "Nós teremos que criar algum tipo de programa para poder interagir com esta população". Muito bom que este Danilo falou! E ele falou de uma unidade do SESC que está sendo construída no bairro Bom Retiro, vizinho à Cracolândia. E a multidão, e a população, e as pessoas de quem ele está falando são os usuários. Não os usuários de cultura, mas os de crack, os de rua, os de miséria.

Não é nova a minha preocupação com a população em situação de rua, embora ainda seja muito, muito, muito pouca. Recentemente apresentei no PROAC-ICMS (um programa do Governo do Estado de São Paulo que apoia a produção cultural através do incentivo fiscal) o projeto BRINQUEDOTENDA, idealizado pela missionária Livia Maria, da Associação Aliança de Misericórdia. Uma Brinquedoteca do mais alto nível, para as crianças em situação de rua. Mas fomos reprovados pelos entraves burocráticos! Porém, não desistimos!

Nesse fervilhar das coisas, dos pensamentos, desta fala do Danilo, passei a me deter mais e mais no direito de acesso à cultura que nos é garantido na Constituição Federal. É verdade que a população de rua é privada da maioria destes direitos básicos. Mas eu não posso oferecer tudo, posso oferecer parte, uma pequena parte e só.

E agora? Faço o quê?

Não posso terminar este texto, disso eu sei. Por que fica, e me deixo, a pergunta: como alcançá-los? Como ofertá-lo, este bem tão precioso?

Não tenho a resposta. Pegunta com resposta é retórica e eu quero mesmo é saber...

Quem finaliza é a Cora, a Aninha:

Conclusões de Aninha

                                                                (Cora Coralina)


Estavam ali parados. Marido e mulher.
Esperavam o carro. E foi que veio aquela da roça
tímida, humilde, sofrida.
Contou que o fogo, lá longe, tinha queimado seu rancho,
e tudo que tinha dentro.
Estava ali no comércio pedindo um auxílio para levantar
novo rancho e comprar suas pobrezinhas.


O homem ouviu. Abriu a carteira tirou uma cédula,
entregou sem palavra.
A mulher ouviu. Perguntou, indagou, especulou, aconselhou,
se comoveu e disse que Nossa Senhora havia de ajudar
E não abriu a bolsa.
Qual dos dois ajudou mais?


Donde se infere que o homem ajuda sem participar
e a mulher participa sem ajudar.
Da mesma forma aquela sentença:
"A quem te pedir um peixe, dá uma vara de pescar."
Pensando bem, não só a vara de pescar, também a linhada,
o anzol, a chumbada, a isca, apontar um poço piscoso
e ensinar a paciência do pescador.
Você faria isso, Leitor?
Antes que tudo isso se fizesse
o desvalido não morreria de fome?
Conclusão:
Na prática, a teoria é outra.

Aqui o vídeo do Danilo na íntegra. Uma das boas partes está entre o tempo 3m30s e 5m. Mas vale muito a pena ver o vídeo todo: